sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Dos fins necessários

Boa tarde, traquinas! Esse texto eu fiz tem um tempo e sempre estou por um fio de cada sentimento que ele me provoca: eu, Lulu T, sou a pessoa que mais perde tempo pensando em assuntos mortos e enterrados, acredite! Deixo aqui meu objetivo com essa postagem: que vocês, traquinas, reflitam sempre sobre separações. Não tenham medo de terminar algo que os faz mal só pelo medo da solidão. Coloquem suas almas felizes! Boa leitura!



Dos fins necessários

Achava engraçado toda vez que começava a sair com alguém. Engraçado não só pelo fato das pupilas dilatarem a cada palavra dita mas também pelo fato de tudo ser supervalorizado. Diga que comprará pães e logo em seguida surgirá: "se esses pães falassem, contemplariam seus lábios e cada mastigar seu até a morte". Talvez todo esse encantamento não fosse o mesmo se analisarmos o que os pães se tornarão até o fim do dia. E então seu endereço, seus gostos musicais, literários e, no meu caso, até a profissão e o meu não importar com toda essa maxmização de identidade subitamente tornavam-me rainha. Eu era a rainha e quase detentora da parcela de vida e humor de alguém. Alguém que eu gostaria na verdade que fosse livre e espontâneo, porque toda essa teia de comprometimento sempre acaba sufocando uma das partes. Torcia discretamente para que não fosse a minha.

Até que o à dois se transforma em algo de domínio público.

Quando uma união vira símbolo e seu nome é substituído por um título de "namorada de fulano" parava e pensava aonde estaria minha certidão de nascimento. 
Eu realmente ficava confusa a cada vez que essa associação era feita e refeita. Agora toda aquela romantização e liberdade pelas quais eu me orgulhava em ter pareciam desaparecidas - juntas ou não da certidão - e para não demonstrar autosuficiência, era melhor que eu não as encontrassem. E depois, o vocabulário.
Lembro bem de muitas noites cujo minha voz repousava após um "se você brigar comigo, eu termino agora". Sem contar as inúmeras flexões de verbo, significando um só número e gênero (terceira pessoa do singular, masculino) contidos numa simples ideia: "se você for, provavelmente [alguém] estará lá". Minha falta, sentida pelos amigos era rotineira pois eu deveria evitar o gênero em número para manter meu caso, que não era casamento mas era o que parecia.

Poucas foram as vezes que ousei regressar meus encontros com alguns amigos e também com o papel e o grafite. Qualquer falta de concentração em algo que não fosse o meu caso, poderia custar o fim da história e não da sentença. Cada vez mais olhava as fotos e tentava me descrever. Fui feliz muitas vezes e isso é incontestável.
Reconheço que errei em tantos tempos verbais e me arrependi em quase todos os modos mas o modo no qual eu não poderia errar era o gerúndio. Era nele que a minha continuidade era decidida e do que adiantava viver de particípios, de subjuntivos e indicativos se o gerúndio extendia todo um sofrimento?

Não fiz este texto visando difamar ninguém. Fiz este texto com o intuito de sempre lembrar que existem escolhas.
Eu posso aceitar que me deixem à norma culta ou posso viver ao meu jeito: coloquial.

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